“A arte diz o indizível, exprime o
inexprimível, traduz o intraduzível.”
Leonardo da Vinci
Conheça a biografia de Mario Valdanini — suas origens, um pouco da sua trajetória, da sua formação artística, seu currículo (aqui) — , um apanhado de sua relação com a família e os amigos. Além disso, algumas fotos das tatoos do artista, seus momentos no Carnaval friburguense e um vídeo sobre o recebimento do título de Cidadão Friburguense, no ano de 2000.
Conheça a biografia de Mario Valdanini — suas origens, um pouco da sua trajetória, da sua formação artística, seu currículo (aqui) — , um apanhado de sua relação com a família e os amigos. Além disso, algumas fotos das tatoos do artista, seus momentos no Carnaval friburguense e um vídeo sobre o recebimento do título de Cidadão Friburguense, no ano de 2000.
HISTÓRIA E ORIGEM
17 de setembro de 1952 | 27 de setembro de 2021
Mario Valdanini nasceu no bairro do Canindé, na cidade de São Paulo, em 17 de setembro de 1952, tendo sido registrado como nascido em 1 de outubro daquele ano — “Deve ser por isso que tenho duas personalidades”, diz o artista, que também conta: “Quando nasci, a parteira do bairro, conhecida por ‘dona Formiga’, me colocou em folhas de jornal. Foi o último parto feito por ela, já que estava doente”. Essa parteira era uma enfermeira “curiosa”, como se dizia na época, diferente da que fez o parto do seu irmão Paolo, que era uma “enfermeira de linho branco”, ou seja, trabalhava em hospital.
Seus pais, Milena Trevi Valdanini e Salvador Valdanini, ambos italianos, chegaram ao Brasil em 1949. Ela é natural de Viterbo, na região do Lácio, nascida no ano de 1924. A casa onde Milena Trevi nasceu foi comprada pelo avô de Mario, o nono Eugenio, em 1900. Trata-se de uma construção histórica de Viterbo, na qual, hoje em dia, funciona a pousada B&B dei papi.
Uma outra pessoa da família que o marcou nos seus primeiros anos foi o tio Mario Trevi (1906-1975), que tinha uma personalidade forte e dizia sempre: “La vita é un sogno…”. Mario criou uma gravura e uma pintura em sua homenagem.
Segundo matéria publicada no jornal A Voz da Serra (edição de 15 de mar de 2017), “quando criança, Mario e sua família moraram em uma casa do escultor José Denardi, que trabalhava para o grande artista Brecheret. A filha e a neta de Denardi eram também artistas, razão pela qual Mario acredita que tenha surgido nesta época o seu interesse pela arte em geral. Em 1963, Mario ganhou seu primeiro incentivo para despontar nas artes: um prêmio que constava de uma bola e um par de óculos, ofertados em um concurso de desenho na extinta Rede Tupi de Televisão”.
Mario viveu em São Paulo e no mesmo bairro que o viu nascer até os 13 anos, quando a família se transferiu para Blumenau, Santa Catarina. Lá, deu início a uma fase de desenhos supercoloridos, bem característicos daquela época.
No começo de 1970, com 17 anos, Mario fez uma viagem à Itália. No país dos seus pais e antepassados, pôde conhecer boa parte das obras dos grandes mestres italianos. Ao retornar, em julho, foi morar em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, onde está radicado até os dias atuais. Dos 24 aos 29 anos, Mario Valdanini aprofundou seus estudos em cerâmica, gravura e escultura na Escola Nacional de Belas Artes, da UFRJ.
De onde vem o nome Mario Valdanini?
“Mario” era o apelido que seu pai, Salvador Valdanini, recebeu dos avôs, todos os dois chamados Salvatore (Salvador em italiano). Por ser chamado de Mario desde criança, decidiu dar esse nome ao primeiro filho — Mario Valdanini — e voltar a ser Salvador.
“Não se compreenderá jamais
completamente o significado da
existência de Mario Valdanini”
“O rabo de cavalo é adorno e leme,
Mario se move a motor, o leme dirige de fora
porque dentro de si tudo contraria a realidade”
“Mario viaja de carona na marola do tempo…
Mario é cidadão friburguense e
espalha valdaninis pelo planeta”
FAMÍLIA E AMIGOS
Mario Valdanini agradece a sua família, pelo constante apoio e incentivo ao seu fazer artístico:
- À sua mãe Milena Trevi Valdanini
- Ao seu pai Salvador Valdanini
- Ao seu irmão Paolo Valdanini
- À sua esposa Cristina Ribeiro
- Aos seus filhos Lilian e Leonardo
- Às suas netas Olívia, Clara e Elisa
- Mario também agradece ao amigo Fabio Herdy, pela criação deste site.
O amigo
Heitor José Bono Domingues (1952-1968) foi um grande amigo que Mario Valdanini teve na adolescência. Ficou marcada na memória do artista a ocasião do lançamento de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, no ano de 1967. Os dois amigos foram correndo comprar o disco e, quando o puseram na vitrola, acharam que esta estava com defeito, tamanha a estranheza e inovação que o long play da banda trazia.
Mestre Franz
Franz Josef Widmar (1914-1994), pintor austríaco, foi um grande amigo e mestre de Mario Valdanini. Os dois artistas se conheceram na montagem de uma exposição de Mario, em 1980, onde Franz apareceu, olhou um trabalho e perguntou: “Quem é o artista?”. Mario se apresentou, dizendo: “Mestre, sou eu”. Prontamente, Franz rebateu: “Vou explicar para você…”. A partir daí, ele sempre aparecia no atelier de Mario e “explicava” como se fazia, tomando as ferramentas de suas mãos e alterando os trabalhos.
Numa destas visitas, Franz novamente “arrancou” as ferramentas das mãos de Mario, quando ele fazia um entalhe, e começou a entalhar (com muito esforço, pois já tinha alguma idade). Depois, pegou o maçarico e começou a queimar tudo, quase acabando com a obra que Mario estava criando. Todos no atelier ficaram em silêncio, com medo de que tudo pegasse fogo. Franz era assim: muito enérgico e dono de uma personalidade forte.
A mais completa coleção de quadros de Franz Widmar pode ser admirada em uma exposição permanente mantida pela Fundação Brasilea (coleção Walter Wüthrich), em Basileia, na Suíça. Mais informações podem ser obtidas em brasilea.com.
Fotos de Atelier
Mario por amigos
Artistas de várias áreas retrataram o amigo Mario Valdanini, seja através dos traços, seja com palavras. Nesta página poderão ser vistas obras de Fabio Herdy (gravura e pintura), Otto Dumovich (desenho a lápis sanguínea), Dil Márcio (caricatura), A. Silvério (desenho), Mário Moreira (desenho), Raimundo Peres (pintura) e artistas de rua; e lidos textos de Carlito Marchon, Nilton Baptista, Sérgio Bernardo, Angela Pedretti e Cláudio Damião.
O mestre, o monstro & o bobo da corte
(e salve São Jorge Guerreiro!)
|Carlito Marchon|
A obra de Mario olha para ele.
Os outros olham para ela.
(ele não vê — especialista do nada)
Ele olha para os outros — o mestre
A matéria da arte de Mario Valdanini
é nervo humano — torcido
barro. tinta. coisa. gilete. maracujá. coisas de Deus.
Esperma. vento. sexo. coisa humana.
o manequim — o monstro
Do alto do Xaxá, Friburgo é uma risada
Bafo de cão.
Banco da praça. Universo. Linha até a lua. Café na
padaria da bruxa. Reunião na Prefeitura
trilhas pelas ruas. solidão de televisão.
Enganar o tempo com delírios e pílulas de tudo — o bobo da corte
Rir de tudo. demolir as ideias dos
burguesinhos e dos anarquistas de pijamas.
O melhor da arte é a festa. beijo. abraço.
Rir de tudo. Permitir que toda loucura se estabeleça.
Inteligência no lance. Avance uma casa. Aperto de mão. Iluminação:
O mestre passeia pela praça. O mestre vai ao ovo.
A lua passa e é friburguense.
Irmão. Tóto. Otários em geral e os amigos de sempre.
De frente. O mestre faz a trança e dança com a vovó.
De repente pinta. De repente amanhece na cabeça do mestre.
(o inferno é pra se conhecer sozinho)
Esquizo-blues. Fadinhas de calcinhas de rendinha vermelhinha.
Lobo babando mulheres. Coca sem gelo na beira do último abismo
e uivando a noite toda.
Virgem. Cego. Algemado. Cabeça batendo na porta.
Asilo. S.O.S. só. O monstro tem cara de anjo e o mapa do inferno nos olhos.
(o inferno é pra se conhecer sorrindo)
(Depois que o espelho da guerra nas estrelas conduzir até Friburgo o seu
raio laser e explodir tudo e queimar nosso esqueleto e nossas geladeiras
modernas, restará Mário rindo de todos nós como só os melhores loucos.
à tarde ele rezará a missa nas ruínas da Matriz e uma lágrima atômica
rolará do olho da arte de Mario Valdanini.)
AUTO-RETRATOS
|Nilton Baptista|
Nos auto-retratos Mario Valdanini materializa o imaterializável: emoções. Toda uma sensibilidade introspectiva a mostrar sua condição de somatizador.
O olhar é sempre inquiridor. Mario quer respostas, olha imperativamente e interrogativamente. São olhos de observador que pesquisa tudo que vê. Mire-os e sinta as perguntas.
Sua profunda angústia existencial promove toda sorte de sensações. Num auto-retrato, esqueleto e dentes são engrenagens visíveis, bem encadeadas e mecanicamente aptas. Ali não há líquidos que alimentem ou lubrifiquem, rigidez corporal, movimentos calculados. Em contraste, a cabeça aberta ao infinito, noutro retrato, mostra ligações cósmicas com a criatividade, as emoções transitando no Universo.
O rabo-de-cavalo é adorno e leme, Mario se move a motor, o leme dirige de fora porque dentro de si tudo contraria a realidade, embora tenha uma determinação inflexível em seguir desejos.
A morte é a vida. Lida com a morte familiarmente, dúvida e temor, as caveiras são a convivência amistosa com o inexplicável, como é inexplicável o que sente.
Revelam-se arquétipos em sua criação. Os lobos, o bom romano de São Paulo, cidadão friburguense, encontra-se com Rômulo e Remo, inconscientemente se amamenta na loba, a seiva artística, uivando criatividade, manuseando a terra dando-lhe status de arte. As raízes italianas à mostra induzindo incontrolavelmente à sensibilidade e imaginação.
Mario possui inúmeros dons inatos dentre os quais destaca sua magnífica intuição de professor, de maestro. Convive bem com as crianças e os jovens, utiliza uma pedagogia de sabedoria natural, uma didática inspirada.
Sua figura lembra os vulcões, célebres na Itália, beleza externa, pacífico na aparência, atraente e misterioso mas que contém nas entranhas a ebulição de todos os metais, de todas as dores e convulsões do espírito que levam a assustar e ser assustado por tudo que representa e não é compreensível.
O Mario-esfinge introjeta o mundo, fonte de enigmas possíveis e intermináveis.
Os auto-retratos nos revelam, mais profundamente que todos os componentes narcísicos, um grande artista “à italiana”.
A caverna mágica de Mario
|Sérgio Bernardo|
Quem entra no ateliê do Bairro Suíço de Mario Valdanini tem a sensação de uma feliz descoberta: “é aqui que a arte mora”!
Não apenas por causa da grande mesa de trabalho lotada de esboços, materiais os mais diversos, a prensa logo à entrada, obras acabadas de nascer penduradas na corda pra secar, o cheiro característico de tinta — coisas comuns a todo estúdio de artista. Falo da atmosfera única que nos envolve com uma vontade visceral de no mesmo instante arregaçar as mangas, pegar tinta e pincel e sair criando tudo o que a mesmice do dia a dia reprime e comprime na fôrma da uniformidade.
Aliás, é o próprio artista que instiga: “Fique à vontade se quiser pintar”. Pode não ser no exato momento, porém não demora para que o espírito que nos acompanha desde que ali entramos se manifeste e alguma forma artística se materialize. Isto é certo.
Com a cooperação das mãos e sensibilidade do aprendiz com jeito de feiticeiro Fabio Herdy, parceiro em grande parte desta nova safra de gravuras após o sucesso da exposição de 2004 no Centro de Arte, a oficina plástica de Mario não para: nos dias em que não há ofício, é o pensamento que funciona a todo o vapor na elaboração dos projetos seguintes. (Quem disse que só se vive esmagado sob o peso de uma sociedade falida e deformada? Há ainda quem respire outro ar que não esse impuro, condensado no caixote repleto de banalidades chamado televisão!)
Numa garagem da Rua Nicolau Gachet há uma caverna mágica, uma outra dimensão, um país de maravilhas em que nossa porção Alice ainda se fascina diante do simples ato de ver mãos de mago misturando cores, formas, técnicas e texturas para dar vida a obras que encantarão os olhos, os nossos e os do mundo.
Apareça por ali, vá chegando, sentando num canto e percebendo o que se passa ao redor. Veja os álbuns de fotografias que o artista for mostrando e que contam sua longa e personalíssima trajetória. Sinta por si mesmo o que estou dizendo e sairá do ateliê de Mario Valdanini modificado: Midas sem qualquer ambição de ouro, tudo o que seu olhar dali por diante tocar se transformará em arte!
Você conhece o Mario?
|Angela Pedretti|
(cuidado, não responda!)
Mario ri de si. De maré. De onda.
Mario viaja de carona na marola do tempo, na aba, numa
boa. E sua obra e sua mala vão com ele. E, surpresa! Quando
ele abre a mala, o que sai de lá é outro ele, com outra mala,
com outro ele dentro. E por aí vai Mario.
A arte é a bola de Mario. Foca.
Brinquedo que ele equilibra no nariz.
A arte é sua broa,
que ele reparte com qualquer brother que pedir um tasco.
Mario é cidadão friburguense e espalha valdaninis pelo
planeta.
No fundo da garagem Mario encanta moscas, alunos, moças.
E cria sua obra. Com o universo atado a seu cinzel, preso a
sua paleta, como um condenado a sua bola de ferro.
Mario pinta os loucos do jardim friburguense como quem
pinta auto-retratos.
Mario é um mestre do ilusionismo: passa dias invisível, mas
também sabe aparecer.
(Do fundo da noite uma voz ancestral o confunde com um
Beatle e grita: “Aí, John Lennon!”)
Mario não engole pérolas (coca sem gelo, pizza sem queijo).
Abbey Road é Rua do Arco. Apple é Casa do Quica.
No mundo das almas penadas Mario tenta iludir o destino
cantando antigos hinos hunos e entoando mantras hippies.
Obladi-obladá.
Mas a arte procura os olhos em pânico de Mario, escondido
atrás do armário, e ri na sua cara e aí ele, otário, produz
coisas. Quaisquer-coisas. E vende como seu xará um dia
oferecia sua escova de dentes por dois real. Que tal? É now.
É nóis.
Mario toma pílulas de fazer Alice ser feliz e sua ascese é no
rumo da noite. Mario alça voo com sua mala sem alça,
descalço, passo a passo, no rumo do Planeta Dúvida.
Mas e a vida?
Mario Valdanini é um artista, colega de Leonardo, amigo de
Silvério, professor de Pablo Picasso. Namorado de Janis
Joplin.
Mario não viaja no trem de ninguém. Ele aparece, Superman,
na janela de seu próprio trem da morte. Condutor do
expresso das estrelas.
Mario é rock. Mario é pop. Mario é o papa, carcamano,
mano, brou.
Mario é Canindé, Pompeia, amigo de Arnaldo, rival de
Serguei. Mario brincou de Rimbaud e gostou.
A arte que brota
dos olhos eternamente abertos
de Mario Valdanini
acerta as contas da humanidade com o mal.
Que tal?
Estátua que anda.
Estátua que ama.
Bronze feito de sangue congelado.
Mario ama Nova Friburgo, mas a musa não corresponde.
É da dor que Mario tira a alegria.
Alquimista de morro. Traficante de beleza e ideias.
Sujeito estranho esse cara
conversando com suas tatuagens por aí.
Você conhece o Mario?
Responda, se tem coragem.
Mario Valdanini
|Cláudio Damião|
Cavaleiro andante
(vastos bigodes, longos cabelos)
entre as cores e o metal —
xilogravuras, painéis…
Seus moinhos são as
tintas, os pincéis…
O sonho por inspiração.
Artesão do encantamento,
circunspecto artista.
Na alma a plástica revelação
deslindada ao sabor do vento.
Uma pessoa que mais é a definição de Arte em movimento.
Dessas que antes de se tornar palpável – no papel, na matéria
já era Arte pronta,
no simples ato de ser.
Um amigo real
Fiel
Tal qual o melhor dos bichinhos
(Talvez por isso a amante deles o escolheu para a vida)
As pessoas que mais valem a pena
São estas de alma sensível e passagem doce.
Gratidão ao Universo pela oportunidade de conviver com um Mestre tão especial.
Gratidão Marinho, pela companhia que nos traz esperança de dias melhores.
Somos gratos por seu sorriso e pela fortaleza de cuidado que trazes consigo.
Feliz existência eterna!
Felizes somos por ela.
|Flávia e Felipe|
17/09/2018
CIDADÃO FRIBURGUENSE
No ano de 2000, Mario Valdanini, que nasceu na cidade de São Paulo, foi agraciado com o título de Cidadão Friburguense. A cerimônia de entrega dos títulos aconteceu no dia 15 de setembro, no teatro do Nova Friburgo Country Clube. O artista recebeu a honraria das mãos do então vereador Bruno Calderaro.
CARNAVAL
Maquiagem da primeira participação de Mario Valdanini (2001) no bloco Maluco Beleza, Nova Friburgo-RJ
No carnaval friburguense, Mario Valdanini desfila todos os anos, desde 2001, no bloco Maluco Beleza. À exceção das vezes em que se fantasiou de Carlitos — o genial personagem criado por Charles Chaplin — e do profeta Gentileza, a fantasia tradicional é de palhaço. O vídeo mostra Mario se fantasiando na casa do artista plástico Raimundo Peres, no ano em que começou a participar dos desfiles.
DIVERSÃO E ARTE – INTERTV
TATOOS
Algumas tatoos de Mario Valdanini que, apesar de sempre gostar muito delas, fez sua primeira aos 39 anos… e não parou mais!